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Posts Tagged ‘doce’

Cosme e Damião“Ali tá dando! Ali tá dando! Coco de rato vai levando!” Era assim que eu e a meninada da minha infância brincávamos de enganar os coleguinhas no dia de Cosme e Damião. A festa era muito esperada. Eu e meu irmão saíamos cedinho pra correr atrás de doce. A gente andava pelo bairro catando casas, carros, pedestres, qualquer aglomeração que indicasse a presença daquelas delícias. O meu favorito sempre foi o tal “coco de rato”, mas também gostava de suspiro, cocada branca, pirulito, bala juquinha – amo até hoje! – e outras iguarias. Eu e meu irmão não pegávamos os doces e comíamos na hora. A gente era disciplinado. Corria pra levar o saquinho pra casa. Juntava todos na mesa e contava no final do dia o resultado de nossos esforços! (A cada ano o desafio era pegar mais saquinhos que no ano anterior.) Depois, despejávamos numa tigela e íamos comendo os que a gente mais gostava. Era efetivamente “doce” o sabor daquela vitória.

Certa vez, com uma amiga, peguei carona num ônibus que passava na minha rua e que deixou a garotada entrar pela porta da frente, afinal era dia de Cosme e Damião. Eu fui. Mas, não me dei conta de que a volta não seria tão fácil quanto a ida. Descemos no Campo de São Bento e tentamos achar os cobiçados doces, mas não vimos ninguém oferecendo. Quisemos ir embora mas os ônibus de lá não nos deram carona de volta. Senti um frio na barriga: – Como iria voltar pra casa? Lembrei de uma conhecida de minha mãe que morava perto e fomos lá pedir ajuda, eu e minha amiga. O filho dela nos deu o dinheiro para pagar a passagem. Quando a gente é criança não tem muita noção dos perigos. Mas deu tudo certo, afinal, Cosme e Damião protegem os pequeninos!

Este ano, fui numa festa no meu centro e senti uma vontade enorme de comprar uns doces pra dar, até como forma de agradecimento pela proteção que minha mãe teve no seu acidente. Mas tinha que ser naqueles saquinhos de papel de antigamente. Hoje em dia até o saco de Cosme e Damião é de plástico! Mesmo quando se fala tanto de reciclagem e sustentabilidade. Ah, não tem a menor graça! Fui numa loja de doces, comprei balas e pirulitos e achei o saudoso saquinho de papel com o desenho dos Santos. Fiz 10 saquinhos e no dia 27 de setembro, um domingo, saí pra levar minha mãe para um passeio na Florália e pensei em dar os doces pra alguma criança pelo caminho.

Chegando lá, avistei um casal com sua filha. Me aproximei e perguntei se poderia dar um saquinho para a garota. Resposta: “ah não, obrigada”. Não entendi bem a recusa, mas logo avistei outro casal que chegava de carro com os dois filhos. Perguntei novamente: – Oi, vocês aceitam um doce de Cosme e Damião? A mãe: ” Humm.. é melhor não”. Nossa! Nunca pensei que me recusariam os doces que, quando criança, eu sempre sonhei em ganhar muitos e muitos mais! Fiquei bem decepcionada, confesso, e cheguei à conclusão que as pessoas de classe média que frequentavam aquele lugar não iriam aceitar os doces. Decidi então guardá-los para dar na rua, para as crianças carentes que ficam aos montes peregrinando nesta data.

Deixei a sacola no carro e fui entrar para ver as plantas. No meio do caminho, havia um stand com uma campanha: “Adote um animal”. Fui lá olhar e ver se havia gatinhos (que eu amo!), mas só tinha alguns cães pra adotar, uns amputados, outros filhotes, outros mais com carinha de pedinte, que era difícil resistir. Junto deles, um grupo de crianças especiais: um cego, uma na cadeira de rodas e outros com deficiências físicas e mentais. Uma jovem segurava um filhotinho de cachorro preto e eu me abaixei pra fazer um carinho no bicho. Foi então que lembrei dos doces! Perguntei: – Você quer uma bala, um doce? A menina fez que sim com a cabeça. Voltei no carro, trouxe os saquinhos e, feliz, distribuí a todas aquelas crianças que, mesmo sem conseguir falar direito, pelas inúmeras limitações que tinham, se esforçaram para dizer um simples: obrigado!

Esse é o verdadeiro espírito de Cosme e Damião! Saí de lá me sentindo nutrida e feliz, como quando saboreava os queridos doces de minha infância. E, pra completar a alegria, dois dias depois chego em casa do trabalho e havia um saquinho de doce na minha cômoda (foto)! A vizinha me dá desde que eu tinha tranças. Isso já faz mais de 30 anos… Sabe, eu cresci, mas quando a gente tem fé, Cosme e Damião não esquecem da gente. Salve todas as crianças! Salve Cosme e Damião!

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